O salão dos recusados, o instagram e o novo renascimento

Em 1863, em paralelo com a exposição "Salon de Paris" um grupo de artistas uniu-se para criar um lugar de exposição onde exibiram as obras que, por são se enquadrarem no status quo da pintura e escultura da época, foram recusadas da exposição. Chamou-se a este salão o "Salão dos recusados" e nele exibiram alguns dos que vieram a alguns dos nomes da história da pintura: Paul Cézanne, Camille Pissarro, Armand Guillaumin, Johan Jongkind, Henri Fantin-Latour, James Whistler, ou Édouard Manet. O Salão dos recusados de 1863 abriu então portas para que se dessem lugar a outras exposições, dando lugar ao movimento do impressionismo.
Por esse motivo o salão dos recusados é um marco na história da pintura, considerado o ponto de viragem para a pintura Moderna.

Na história da arte tem havido sempre esta dualidade de movimentos: A cultura e a contraculturua. Num dado períodos de tempo, existe o que é considerado a norma e aceite pelas instituições, e um movimento contrário, que corresponde ao questionamento do status quo. O que é arte torna-se então uma das questões mais difíceis de responder, torna-se debate filosófico.

A arte contemporânea sofreu muitas mutações e viragens desde o salão dos recusados. É um espaço cada vez mais diverso onde cabem muitas práticas e muitas discussões. No entanto é também regida por um conjunto de normas, de formas de operar. Tudo pode ser arte, mas deve ser de certa forma, para poder ser arte. A pintura foi morta múltiplas vezes, tudo foi questionado até à matéria, ampliou-se o campo de actuação da arte e o seu sujeito. Procura-se o diferente, os novos diálogos e os conceitos ganharam nova força, muitas vezes superando a técnica.

Ao visitar um museu de arte contemporânea vamos encontrar um caminho ou uma certa linguagem. O diferente, o inovador e a ideia tornaram-se cultura. Então nesse caso: o que é a contracultura?

Ao visitar um museu de arte contemporânea vê-se muito pouco de arte figurativa tradicional, focada da observação e na técnica. Contudo, este grupo de artistas não desapareceu. Se olharmos para outros meios de comunicação vamos encontrar um movimento de artistas dedicados à pintura, na observação à beleza. No instagram florescem as páginas dos novos artistas com milhares de seguidores, que dedicam o seu trabalho a homenagear a observação. Questiono-me se este não será um novo "salão dos recusados". Se pelos meios académicos muitos destes valores estão "ultrapassados" estes artistas dão-lhes novas abordagens, novas interpretações, novas técnicas. Fala-se de um "novo renascimento" O percurso do artista figurativo faz-se, na sua maioria, fora das universidades, nos ateliers de artistas, numa óptica de aprendiz-mestre. Os artistas comunicam entre si, retratam-se mutuamente, lançam desafios. E Florença continua como um dos centros da pintura figurativa.

Artistas como Nicholas Uribe, ou Benjamin Bjorklund têm milhares de seguidores, e as suas páginas de instragram transformam-se assim em galerias virtuais. Se contabilizarmos o número de visitas e interacções dentro destas páginas, questionamo-nos até se não serão superiores às das visitas aos museus e galerias. 

Questionamo-nos onde está a cultura, onde está a contracultura.

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